Entre a Leveza e o Peso do Ser
- Angélica Nogueira
- 3 de out. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de out. de 2021
Sabina, artista plástica, leve, mulher sensual, vibrante, amiga "íntima" de Tomas, e por extensão, amiga também de Tereza. Sabina - agora vivendo nos Estados Unidos -, atendia a um casal de clientes, quando recebeu uma carta urgente da Europa - onde havia morado alguns anos antes - e lágrimas de saudades escorrem em seu rosto...
Primavera de Praga, 1968, Tomas, um jovem cirurgião, é um Dom Juan, um libertino, decidido a amar seu trabalho e levar a vida “livre e leve” como um pássaro, em busca de aventuras, sem quaisquer compromissos, seja com ideologia política ou mulheres. Sua sensualidade chamava a atenção, e seu olhar era inebriante. O que ele não poderia imaginar é que há escolhas em que o coração fala mais alto, um enigma que precisaria viver para decifrar.
Tereza, fotógrafa criativa, capacidade de amar intensamente, frágil, dependente, bela, olhos travessos, plena em sua verdade, autêntica, incapaz de trair sua própria natureza apaixonada.
Tomas vê Tereza pela primeira vez mergulhando na piscina, ele a segue com o olhar, e a admira trocando sua roupa através de uma fina cortina: seu corpo, seu jeito, detalhes mínimos que fazem uma mulher diferente de outras... Como entender essas coisas do coração?
Ele nunca dormia ao lado das outras mulheres, dava uma desculpa e ia para sua casa. Mas, em Tereza, havia uma nova beleza, algo superior. Na primeira vez em que estiveram juntos e se entregaram ao êxtase, Tereza dormiu em seus braços como se estivesse ouvindo uma canção cantada numa floresta há mil anos...Um tempo depois se casam.
Após momentos de felicidade, Tereza percebe que Tomas mantém seus casos extraconjugais.
Ele explica:
-Há amor e há sexo, e sexo é como futebol, uma diversão, sexo é parte intrínseca de meu ser, mas o amor diz respeito a uma só mulher, que é você...
E, ela o amava a tal ponto, que o deixou, para que ele voltasse a ser leve:
-Sou teu peso, você é leve e tiro sua leveza, diz Tereza.
Tomas passa um tempo sozinho novamente, volta à sua vida “leve e livre”, e se pega diversas vezes se lembrando com saudades de Tereza. Ele se pergunta: O que eu amo quando amo Tereza? - seu jeito de beijar, abraçar, dormir e acordar a seu lado, seu perfume, sua fragilidade e doçura, sua intensidade no amor, seu talento e criatividade, seu toque carinhoso, um algo a mais inexplicável pela razão, mas em seu coração já não havia dúvida, apenas uma falta absoluta daquele ser que preenchia todos os seus sentidos -, e, assim ele percebeu que, embora com a leveza do descompromisso, os casos com outras mulheres eram um tipo de um prazer superficial, passageiro. Ao passo que, o amor verdadeiro e suas consequências, era o que dava sentido à sua vida. Ele vai em busca de Tereza, eles reatam a relação e decidem viver no campo.
Um dia, saem para comemorar em um pub na cidade vizinha... Dançam, riem, bebem, se amam, vivem todo o encantamento das escolhas que os levaram a viver seu grande amor.
Ao voltarem para casa, ele dirigindo, Tereza o beija com todo carinho e pergunta:
-Em que pensas?
Tomas responde:
-Em como sou feliz agora.
“Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado.” Milan Kundera
“A Insustentável Leveza do Ser” Milan Kundera
COMENTENTÁRIOS DAS AMIGAS DO COLETIVO ESCREVIVENTES
Fico maravilhada em como as relações se constroem e se reformulam nessa obra de Milan Kundera. Nessa frase, em especial, você sintetiza a essência desse romance: tem levezas que são insustentáveis para uma mulher que ama.
Andrea Agnus, ao mesmo tempo são essas contradições que dão sabor à vida e nos inspiram a escrever. Grata pelo seu olhar.
Uma sugestão: esse é um ponto importante do conto, é o ponto que entendemos a filosofia por trás. Sendo assim, eu sugiro mostrar a falta que o peso dos compromissos faz a Tomas (pode ser através de uma lembrança ou de alguma ação) ao invés de narrar que ele entendeu. Falo isso porque é mais gostoso para o leitor perceber por conta própria a relação leveza-peso.
Oi Lícia Coelho, precisaria de mais tempo para desenvolver mais o texto. Muito boa sua sugestão. Veja se ficou melhor dessa forma. Aguardo seu retorno. Abraços e Grata
Esse livro contém a simplicidade de questões humanas bastante profundas. Nesse trecho, a síntese de uma das maiores contradições do ser "sem compromisso é leve, mas todo mundo busca o "peso" do compromisso!". Gostei muito do seu olhar sobre a obra.
Muito obrigada Elaine Brito! Essa é uma obra que leva à diversas reflexões, mas como era necessário não me estender muito, lancei meu olhar apenas nessa contradição. Fiquei muito feliz por você ter lido e pelo feedback positivo. Abraços
Angelica, essa é uma das minhas mais fortes filosofias de vida.
Andrea Agnus, agradeço sua leitura. Esse livro e filme, nos leva a ótimas reflexões. Abraços
Apesar de ser um filme (e livro) bem famosos, confesso que nunca assisti nem li. Entretanto, isso não atrapalhou meu entendimento do texto, o que é um grande ponto positivo. O final chegou de repente e me surpreendeu. Talvez não surpreenda tanto a quem já conhece a história. De qualquer forma, gostei do modo como vc narrou. Gostei, também, de vc ter incluído trechos do livro, casaram bem com os momentos que vc pincelou.
Oi Licia Coelho, acredito que este final nos leva a refletir sobre como não há controle na vida e precisamos cuidar de nossas emoções com carinho muito especial. Como o autor diz" não há ensaio, o primeiro ensaio da vida já é a própria vida... Muito grata por ter lido meu texto e pelo feedback positivo, que muito me faz feliz!!! Bjos

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