BIANCA - CONTO BY ANGÉLICA NOGUEIRA

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Bianca, olhar lívido, maxilar tenso, respiração suspensa. Percebeu que algo estava fora dos eixos, naquele dia. Pedro não dera notícias. Ouviu a chave destrancando a porta. Seus olhos fixos, viu seu pai com a expressão em seu rosto que confirmava sua intuição. – Pedro não voltará, sinto muito filha. Parte destruída de si. O que era tão incompreensível se entranhara em seu olhar.

Ouvindo as batidas do coração, tinha um objetivo decidido, afastar-se do medo. Decidira deixar tudo o que vivera e construíra até então, e sair em busca do sentido da vida.

Vendeu tudo o que tinha, fez as malas e partiu para um Ashram na Índia, um desejo antigo.

Chegou, ouviu o som da natureza, pássaros cantando, águas sagradas do Ganges. Olhou no lago, uma Flor de Lótus, cujas raízes profundas, germinam nas entranhas de lagos e sobem até a superfície para florescer, mas somente, quando as condições adequadas são atingidas. Era o que buscava e ali ficaria até que conseguisse.

Vieram as palavras do Mestre: - Somos um curso d ‘água, você nunca está sozinho, quando se senta para meditar, seus ancestrais e as pessoas queridas que se foram, estão sentadas e respirando com você. Não somos seres isolados. Convide-os todos a apreciarem cada inspiração e cada expiração. Somos uma correnteza, uma continuidade de humanidades. Use sua tristeza, como escada para evoluir e chegar ao seu eu supremo.

Bianca entrou na rotina. O dia no Ashram começava de manhã, bem cedinho: aulas de yoga, meditação, técnicas de respiração, cantoria de mantras e rituais meditativos. Boa parte do dia em silêncio. Pensava em sua vida e nos acontecimentos recentes; sentia a beleza nos pequenos momentos e detalhes. A catarse começou a acontecer – percebera a própria mudança – estava em pleno movimento de experimentar uma dimensão além da material – reconectando-se com o ser mais íntimo.

O que era para ser um retiro breve, se tornou sua nova trajetória. De sua profundidade jorrou uma fonte da verdade e uma Flor de Lótus.