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E se, eu tivesse que confessar todos os meus pecados?Angélica Nogueira – 15/11/2021


Estava em um encontro com amigos de um trabalho voluntário, que usa como base a psicoterapia humanista, numa aconchegante cafeteria, cheirinho agradável no ar, quando minha amiga Nina sugeriu um exercício: – e se, tivéssemos que confessar todos os nossos pecados? Como sempre, gosto de começar, não por ser corajosa, mas para ficar livre do desafio. Então, aí vai minha confissão:

Sou pecadora, possuidora de todos os pecados do mundo, encapsulada em minha própria redoma de vidro. Meu silêncio me embalsama com a massa das memórias da culpa de não ter vivido toda a minha potencialidade, carregando meu universo numa caixa de música e poesia, assim também como, um ovo de galinha que nunca se abriu, por imposição incontrolável da necessidade de fechar meus olhos para a realidade opressiva e patriarcal. Em contraponto, meus pensamentos, sentimentos, minha imaginação, vão até ao infinito - isso ninguém me pode negar. Indagar significados e possibilidades que se expandem – meu espírito não tem fim – colorindo horizontes através das pinturas, revelando minhas ideias e verdades através das poesias, contos, crônicas. Estremeço pela desistência de viver uma vida em que não me enquadro. No silêncio de meu ovo, minha vida ganha forças para chegar ao não ser – viver o tudo e o nada – saltar através dos mistérios das imagens que se formam e se desvanecem em nuvens delicadas. Não desejo o que possibilita o meu crescimento, quero implodir o eu. Ah, e o meu mundo interior, este sim me interessa. Quero estabelecer um novo conceito de vida, uma antítese, um universo sem mim. Se é possível tamanha liberdade – ser naturalmente primitiva a ponto de não me preocupar com coisa alguma - sem as artificialidades da vida contemporânea. Simplesmente observando, chegar a verdadeira percepção da ganância, sutil e profundamente imersa em fachadas de interesses diversos. Que ninguém tente melhorar-me, já fui feita alfa e ômega, completamente perfeita em minha imperfeição – e, sendo assim, única.

Então, observo a lua sendo refletida em um oceano calmo e tranquilo e posso intuir ao longe o caos dos que sem alcançar a verdade do cosmos, se colocam a frente de outros indicando o caminho. Como indicar um caminho se não se sabe ainda qual é o caminho? Como se partilha o que não se tem? Caminhos despedaçados, cortados em ruas sem saída, secos e isolados. Alguns à procura das mais profundas motivações para conseguirem a total cura da sociedade, com sua agressividade e violência, conscientes da repressão, sem perder a fé no ser humano, pois há tanto o que fazer, tanto a ajudar os demais! De dentro de meu ovo de serpente implodido, vejo o processo de um passado que nos trouxe até o presente, onde existe alguma liberdade para se mover em qualquer direção, e uma enorme variedade de pessoas únicas em seu modo de ser.

Como se libertar-se da culpa? Aceitando-a, olhando para ela e se despedindo?

*”Toda luz tem sua sombra, um território de trevas onde habitam nossos desejos, como todo território inexplorado, as sombras escondem tesouros, mas não importa quanto ouro tenham, não deixam de ser sombras, cheias de escuridão, esconderijos e incertezas, é a luz que nos deslumbra, que ilumina o caminho que percorremos, mas são as sombras que nos definem, é onde não há luz que mora a alma, o que queremos, o que perseguimos, o que somos de verdade.”*

*Último parágrafo citação de Fernando J. Muñez no livro A Cozinheira de Castamar.



 
 
 

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