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FLOR DE LÓTUS - AUTORA: ANGÉLICA NOGUEIRA


...nessa perspectiva, eu estava, aos vinte e poucos anos, duas filhas, uma de 4 anos e uma recém nascida, sem experiencia, longe da família, marido embarcado na plataforma de petróleo, tão distante de minha órbita. Essa foi uma das grandes viagens da minha vida, uma travessia de um mar, sem plano B. Para minha sorte, bons ventos de proa foram soprados. Cumpri a grande aventura de ser mãe.

A vida de cada pessoa, a meu ver, é formada por várias histórias, que vão tecendo fios, confeccionando uma colcha de retalhos vivos, em tensão crescente, quando já não se consegue mais estar em segurança, junto ao porto seguro da família - passando a viver por conta própria - com tanta coisa vindo em nossa direção e às vezes, somos ainda tão inexperientes para saber lidar com tanta demanda.

Assim também, aconteceu com a minha poesia, que foi sendo gestada através dos tempos, da solidão, das muitas leituras ecléticas, vivências, buscas de espiritualidade, querendo alçar voos, para entender as perguntas sem respostas, durante a vida. Chegou um momento em que dei à luz ao primeiro verso, depois poemas, depois livros. Talvez, todo o acúmulo de informações viva no inconsciente, nas sombras, que nem sempre queremos ou conseguimos enxergar, para isso precisamos de ajuda.

Na atualidade, convivemos, cada vez mais, com desafios, cobranças, que nos levam a estar sempre com pressa, numa correria sem cessar; preocupações com o trabalho, família, segurança, status, gerando o estresse.

Em certo momento de minha vida, naveguei em busca de alcançar uma maior harmonia e equilíbrio, com um grupo de vivência na área da psicologia e meditação, cujo um dos conceitos básicos, é considerar a pessoa como uma unidade psique-corpo-espírito. Observar o ser humano em relação - consigo mesmo, como o mundo, com os outros. A meditação é bem-vinda, e faz parte do processo.

Numa dessas dinâmicas, o grupo me deu suporte – sou uma pessoa difícil de chorar em meio a outras pessoas – mas naquele momento, me senti caindo em uma montanha russa do tempo, e a sensação foi de estar vivendo no passado, quando tive uma enorme dificuldade; chorei alto e solucei - algo totalmente imprevisto - minha razão e toda a repressão desapareceu, e pude tomar consciência do sofrimento vivido; este fato me trouxe condições de reelaborar a situação e continuar minha vida de forma mais verdadeira e positiva.

Voltei a sentir o pulsar e a escutar o som da vida - apalpando aqui e ali - para descobrir quem sou; a mudança não foi da mente e sim do meu ser interior.

Aprendi que a vida é sempre incerta, não há controle. Tudo que é vivo, muda, move-se, é um fluxo, é líquido. A consciência vai surgindo através da sensibilidade, no ato de estar presente, saboreando o momento, com o coração. O ato de sentir amor é transcendente. Foi como estar em um oceano, onde meu ego mergulhou e a essência emergiu, poeticamente, me tornei fecundada, e carregando essa gestação. Tudo começou a acontecer, de forma transformadora, simultaneamente, com a visão interior. Senti-me inteira e totalmente consciente.

Revendo agora, minhas experiências e buscas, parece-me que todo esse processo se assemelha a uma Flor de Lótus, cujas raízes profundas, germinam nas entranhas de lagos e sobem até a superfície para florescer, mas somente, quando as condições adequadas são atingidas.


“Todo esse tempo, entre o próprio tempo e o vento

Todo esse movimento, nas asas do beija-flor

Na vastidão do tempo, o infinito da solidão

No tempo, a passagem, o céu azul e a oração.” Angélica Nogueira

@angelicanogueirabhz


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https://angelica-nogueira.medium.com/flor-de-l%C3%B3tus-by-ang%C3%A9lica-nogueira-eb0e12be6911



 
 
 

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