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FUGA DA REALIDADE - AUTORA: ANGÉLICA NOGUEIRA INSTAGRAM: @angelicanogueirabhz


Sua pele estava molhada, como se de seus poros surgissem o orvalho gelado das manhãs. Olhou em direção ao carro preto que sempre ficava estacionado nas redondezas da rua onde morava. Reparou no motorista, de fisionomia indecifrável. A vertigem passara a fazer parte de sua vida. A todo instante aquela enorme fenda, anarquicamente atordoante, em seu caminho. Ele e seus livros, ele e seus estudos, ele e sua angústia. O querer saber através do conhecimento, da lógica, da ciência. Em contraponto, era devotado a buscas espirituais. Cruzou a esquina em direção a biblioteca, onde agora passava a maior parte do tempo em busca das respostas. Aquele lugar o acalmava — era luminoso, aconchegante. As pessoas em silêncio e todo o ambiente cercado de livros, o acolhia. Lá sentia-se bem, ou quase… Sua busca pelo entendimento era uma necessidade vital. Lia sobre assuntos os mais diversos: Mestres do Extremo Oriente, Budismo, Hinduísmo, Psicologia, Cristianismo, Cabala mística, Sabedoria Universal, Anjos, Ufologia, Raios, Fraternidades, passando por livros que levavam a filmes e lhe despertavam, igualmente, o interesse. Procurava peneirar o que mais tocava seu coração e poderia desenvolver sua mente. O tempo seria seu grande aliado. O acontecimento que lhe trouxe tanta decepção e pelo qual havia se sentido rejeitado, tornou-se um trauma, cuja presença estava em seu interior a instigá-lo, e sua intuição dizia que precisava olhá-lo de frente, para entender todo o processo pelo qual passou, para que sua fuga da realidade cessasse. Apreender o mundo, seus mistérios, e a correspondência entre os eventos de sua vida, no plano do manifestado e seus arquétipos. Por certo, os momentos difíceis contribuíram para sua evolução. Começara a gostar de sua solidão e isto o deixava atônito, pois um tempo atrás queria viver coisas mundanas, que já não o tentavam mais, viraram banalidades. O espaço vazio entre duas colunas — o que estaria revelando em seu mais íntimo, inexpressivo e angustiante, não saber? Com certeza sentia, mas talvez não houvesse espaço para prestar atenção. Afinal, intuição e outras coisas da alma, não se prova como “dois e dois são quatro”. Certa vez, chegou à conclusão de que sua tendência romântica, ainda ia lhe trazer grandes problemas. Com toda sua vitalidade e cheio de energia, seria normal desejar outra pessoa. Ele acreditava que essa atração tão forte era pura e natural, desde que soubesse como lidar com isso. Porém, no íntimo, por toda a sua experiência, intuía que era verdade — seus problemas sempre vieram dos relacionamentos. Um aprendizado que teria que dar conta. Ficar só, era sua lição nesta vida — era o que acreditava naquele momento. Já não se revoltava mais. Começara a gostar de sua solidão. Até que, aquela mulher entrou em seu campo de visão e o fascinou. Bastou olhá-la para sentir uma sintonia indescritível. Uma sensação de bem-estar com a vida e a intuição de que tinha muito a aprender com ela. Sua beleza era profunda e verdadeira. Havia sabedoria em seu sorriso. A sintonia fora mútua. Iniciaram um diálogo, e ele percebeu, o quanto suas palavras eram leves e frescas. Com ela aprendera que a natureza muda a todo momento e é melhor deixar tudo fluir com delicadeza, no tempo certo. Era bom ter o coração em paz e manter o equilíbrio. Enquanto conversavam, ela lhe contou um dos cantos do poeta indiano “Tagore”, o que foi o ponto necessário para que ele aprendesse o verdadeiro sentido de amar: “Que meu amor não seja um fardo para você.” Assim, ele começou a olhar além e foi rumo a um novo amanhecer. Agora, seu sorriso vinha da alma. Sua pergunta “por quê?” deixara de fazer sentido. As coisas são e têm razão para ser como são. O “por quê?” não interessa e sim o aprendizado, com cada circunstância vivida.





 
 
 

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