SAUDADE DO TEMPO DA DELICADEZA
- Angélica Nogueira
- 5 de nov. de 2021
- 2 min de leitura

Dona da sabedoria que se obtém apenas através da experiência de vida – foi professora por muitos anos – hoje, aposentada, vive com o marido e uma filha solteira. Ela chegou ao meu apartamento, um andar acima do dela, à tardinha, trazendo um vasinho com mini orquídeas, flores encantadoras e raras, minhas prediletas - gosto de rega-las, observá-las florescer - um gesto cheio de simplicidade, mas ao mesmo tempo, eu chamaria de especialmente raro, por incluir tanta sinceridade, bondade, beleza... Me senti fascinada pelo mistério desse súbito encantamento! Um momento efêmero de demonstração de gentileza e amizade, ao mesmo tempo, trouxe uma sensação de eternidade. Como costumo dizer: “ganhei o dia”, o que me levou a especular alguma razão oculta para tanto contentamento.
Durante anos moramos no mesmo prédio, nos encontramos no elevador, no jardim, na rua voltando do supermercado, sempre a troca de sorrisos, o habitual – Tudo bem? - . Mas, A surpresa dessa visita levou meu olhar para um outro mundo. Essa imagem me transportou para o passado, para memórias adormecidas, me fez reviver meu mundo interior, envolvido em nuvens. Era uma saudade que vinha de um lugar distante, assim como a última estrela nos confins de alguma galáxia no universo.
Contei essa história a todos da minha família, pois para mim, que dificilmente recebo visita de vizinhos, apesar de morar no mesmo local há 20 anos, sempre faço a observação de como a vida em sociedade e comunidade tem mudado, de meus tempos de criança para os dias atuais.
Lembrei-me da Vila onde eu morava quando menina, onde eu podia sentir uma amizade profunda e sincera entre todos, as crianças brincavam na rua, na varanda das casas; era comum, se faltasse, por exemplo, açúcar em casa, pedir à algum vizinho, e havia uma boa vontade, uma união entre as pessoas próximas.
Nos dias atuais, na busca constante por um trabalho que amamos e nos sintamos realizados, podemos encontrar algumas dificuldades para nos relacionar com nossos vizinhos, principalmente, a falta de tempo na correria do dia a dia atarefado.
Me comovi com a visita pois me dei conta de quantos anos passei na pressa das muitas tarefas a serem realizadas, pensei na minha desatenção, nas flores que não vi, nas amizades que não fiz, nos momentos felizes que não vivi. É necessário amar a tudo e todos com o olhar, isso pertence a poesia da vida, esse momento de ouvir a música tocada em meu coração, foi um momento transformador, do qual me lembrarei para sempre!
05/11/2021
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